"O estilo nem por sombra corresponde a um simples culto da forma, mas, muito longe disso, a uma particular concepção da arte e, mais em geral, a uma particular concepção da vida." (Leon Tolstoi)

3 de jul. de 2010

SPFW-4 Dia

Reinaldo Lourenço

Alto esporte

Reinaldo Lourenço fez o improvável: misturou o design do automobilismo, uma de suas referências para o verão 2011, com o clima haute couture dos anos 1960. E não é que o mix deu muito certo? Do esporte, ele importou as ranhuras típicas das pistas – que aparecem em um incrível jacquard de seda, com marcas de pneus em baixo relevo. Trouxe também recortes aerodinâmicos e formas das roupas esportivas. Salpicou tudo com toques de cores fluo: pink, amarelo, tomate. Da alta-costura, buscou e recriou a silhueta com costas gonflées, bem sessentinha, e o trabalho artesanal. O resultado final é um crossover entre luxo e casual para ninguém botar defeito. Embora superelaboradas – há tiras de seda trançadas que fazem as vezes de tela, flores de organza etc – os vestidos, calças (curtas), saias, macacões e o taillleur (lindo!!!) têm design limpo, reforçado pelos pouquíssimos acessórios – belas sandálias de tiras. Tudo feminino, com direito a lacinhos na cintura e sutis transparências. Mas nada, absolutamente nada bobo, como as mulheres adultas anseiam por encontrar.

SPFW- 3 Dia

Maria Bonita

É do trabalho da fotógrafa Anna Mariani, apaixonada pela arquitetura das casas populares do Nordeste, que parte a coleção de verão da Maria Bonita. Não é de hoje, afinal, que Danielle Jensen olha para o pop e para o Brasil para criar peças que fogem das chamadas “tendências” internacionais e que de rústicas só têm a aparência – tudo é feito com os melhores tecidos e cortes precisos. Prova de que pode existir moda brasileira autêntica e universal ao mesmo tempo. O desfile começa com conjuntos de calças curtas e paletós de algodão com inox (que garante o efeito amassado), em bonitos tons de areia (mais fáceis de usar do que o nude). Nos pés, chinelinhos de dedo. E na cabeça um chapéu/capuz, mix de duas peças, também recorrente no trabalho da estilista, que adora unir/desconstruir peças. Mosaicos de madeira entram em cena nos detalhes (no decote do vestido, por exemplo, à la colar), nos acessórios e em algumas peças (caso do top). Na sequência, cores bem esmaecidas, típicas dessas casas feitas com cal, dão vida a roupas que carregam a mensagem simple chic. Os desfiles da Maria Bonita são sempre surpreendentemente simples e bonitos de se ver. É um trabalho de equipe: a trilha de Caetano, o cenário de Daniela Thomas... tudo contribui. Desta vez não foi diferente.

SPFW- 2 DIA

IÓDICE

Balneário imaginário


Valdemar Iódice conhece bem o gosto da sua cliente e não a decepciona nunca. Peças bem femininas e facilmente usáveis deram o tom do desfile apresentado na manhã desta quinta-feira, no Shopping Iguatemi. A inspiração era um balneário imaginário – portanto, muitos vestidos, saias, calças e camisas nos tons azul e branco, com apliques de presilhas douradas. A referência navy é literal, mas as melhores peças são justamente as que fogem do tema. Os vestidos curtos e acinturados do início da apresentação são bonitos e desejáveis desde já. Com recortes feitos a laser no couro e no jersey, com um resultado de efeito similar à renda, têm estrutura rígida e perfume de anos 50. São bons também os coletes e as jaquetas de camurça com a mesma padronagem. Do meio para o fim, uma profusão de longos e mínis fluidos de seda pura e calças cropped justésimas – muitas com ilhoses embutidos nas costas. Destaque para as belas sandálias abertas, também com recorte a laser, nos tons nude e bege.
Ellus 

Foi com um belo exercício de metalinguagem que o desfile da Ellus começou. Em meio ao tumulto de fashionistas procurando lugares na plateia, fotógrafos clicando celebridades e assessores de imprensa com rádios na mão, modelos se arrumavam calmamente pela passarela coberta por um véu. Como se não houvesse ninguém olhando, maquiadores faziam os últimos retoques nas moças e assistentes corriam com steamers na mão. Quando as luzes se acenderam, o que se viu foi um desfile totalmente coerente com a história da Ellus. Meninas lindas, com looks jovens e femininos e jeanswear de primeira, desgastado e com recortes inusitados nas laterais. As estampas inspiradas no Havaí são graciosas – feitas a partir de fotografias digitais sobrepostas com xadrezes coloridos. Os tops e vestidos, fluidos e soltos, são combinados com shorts e calças jeans justinhas, de cintura alta. A silhueta é bem girlie. Há uma curta, porém coerente, série em moletom, com destaque para o minivestido de Cintia Dicker, mais uma vez garota-propaganda da marca. Os pés remetem à última coleção da Balenciaga, com docksides e oxfords com salto anabela, alguns em acrílico.

Alexandre Herchcovitch

Balé de cores

Moda é arte? Essa é uma velha discussão e nem vem ao caso. O que importa de fato é que, algumas vezes, os estilistas chegam bem pertinho e criam peças funcionais que carregam de sobra o dom de fazer sonhar. Alexandre Herchcovitch, um dos maiores nomes da moda brasileira, fez isso no verão 2011. Brincando de artista plástico, criou uma coleção primorosa, tanto em cor quanto em modelagem. O começo do desfile é todo monocromático – e superforte. O laranja foi o tom eleito para abrir e tinge vestido, escarpim com plataforma embutida e pulseira, um dos raríssimos acessórios. Na sequencia, splash! Pink, azul turquesa, verde menta. Uma explosão que chega até ao coque bailarina das modelos. Isso tudo sem deixar as formas em segundo plano: recortes, pregueados, armações, volumes localizados. É tanta informação que fica difícil acompanhar. Exige tempo, como nas obras de arte. De repente, as cores se unem e aparecem como jatos de tinta – Pollock, Mark Rothko, Barnett Newman, expressionismo americano em tecidos. Ombrés também surgem e, no meio de tanta vibração, pretos chiquérrimos e cinzas/nudes com o suave metalizado típico do cetim de seda. São apenas 27 looks. Mas a impressão que fica é a de um conjunto completo de um grande artista.
CORI

Viajante elegante

  Inspiradas pelas expedições pelo Brasil durante o século 19, que mapeavam a nossa flora, as estilistas Andrea Ribeiro e Giselle Nasser criaram peças que ecoam roupas típicas de andarilhos (bolsos grandes, utilitários, cores neutras), mas que vão fazer bonito em escritórios e happy hours. A forma das calças é sempre curta e bufante, com bolsos profundos; os paletós são bem curtinhos e hiperfemininos; e os vestidos ganham muitas camadas de drapeados – os do início são melhores, já que no final, o excesso de pano contribuiu para uma imagem um pouco infantilizada. O contraste de materiais, como seda versus tweed de algodão, e a camurça com efeito empapelado merecem menção honrosa. Boas também as estampas florais estilizadas e os vestidos e macacões inspirados no paletó – a lapela de seda é uma graça! Vale destacar ainda a saia longa esvoaçante, difícil de usar na vida real, mas linda de se ver na passarela.