"O estilo nem por sombra corresponde a um simples culto da forma, mas, muito longe disso, a uma particular concepção da arte e, mais em geral, a uma particular concepção da vida." (Leon Tolstoi)

8 de abr. de 2010

08/04/2010 - 00h03 Criadora do vestido-envelope, Diane von Furstenberg traz retrospectiva a São Paulo


Diane Von Furstenberg é o tipo de pessoa que pede desculpas ao motorista do carro por ter mudado de idéia sobre a necessidade de ligar o ar-condicionado. Que dá carona à repórter mesmo em meio a uma agenda lotada de compromissos, porque se recusa a deixá-la na chuva depois de uma entrevista. Ainda, uma espécie de gente que, ao ver o céu escurecer no momento em que está prestes a posar para um retrato ao ar livre, lança a idéia: “por que não fazemos a foto de guarda-chuva?”. A estilista, importante nome da moda mundial, tem entre suas qualidades uma gentileza e um bom humor raros. Quase surpreendentes quando se pensa que uma mulher cujo rosto já serviu de tema para trabalhos de artistas do porte de Andy Warhol, cujas roupas que vestem personalidades como Madonna e cujo sobrenome vem de um casamento que já lhe rendeu o título de princesa, poderia acreditar que ser apenas educada já estaria de bom tamanho.
Mas a estilista parece espontaneamente gentil. A criadora do famoso vestido-envelope dá, por meio de sua personalidade, as pistas da fórmula do sucesso de sua moda: ser acessível, mas nunca comum; informal sem perder o glamour; e bem-humorada, sem jamais abdicar da feminilidade.

O sucesso da difícil combinação resultou em uma retrospectiva que mostra a trajetória e a importância da carreira de Diane Von Furstenberg desde os anos 70, quando, aos 28 anos, foi capa da revista Newsweek e comparada a Coco Chanel, até a ressurreição de sua grife nos anos 90 e a continuação da bem-sucedida história fashion, que hoje lhe rende o prestígio de presidir o CFDA (Associação de Estilistas da América) e de encabeçar movimentos em prol das mulheres, como sua contribuição para a ONG Vital Voices. Com abertura para convidados nesta quinta (8), no shopping Iguatemi (pouco mais de uma semana depois da inauguração da loja da designer no mesmo endereço), “The Journey of a Dress” tem curadoria do editor da Vogue América André Leon Talley e reúne 140 itens, entre vestidos-envelope dos anos 70 e quadros e fotos de Warhol e Helmut Newton, além de outros nomes importantes da arte e da fotografia contemporâneas que usaram o rosto da estilista como fonte de inspiração.

No Brasil desde o último domingo (4) para organizar e abrir a exposição, a designer, entre entrevistas (só na parte da manhã foram seis), fotos, os últimos retoques da mostra e o “corpo a corpo” que tradicionalmente faz com seus clientes diretamente na loja, regado a champanhe e conselhos sobre suas roupas. Atrasada para um retrato marcado com a Elle norte-americana no Auditório do parque do Ibirapuera, Mrs. Von Furstenberg levou o UOL Estilo para um passeio de carro em que elogiou a moda e a mulher brasileiras, apostou no Brasil como bom investimento para os negócios e deu dicas para as mulheres contemporâneas interessadas em liberdade e independência, lemas de vida da estilista.

É essencial a mulher ter uma identidade fora de casa”, afirma. Belga, de família judia, com a mãe sobrevivente do Holocausto, Diane virou Von Furstenberg aos 22 anos, quando casou-se com Egon Von Furstenberg, filho de um príncipe alemão e de uma italiana herdeira da Fiat. Ao virar princesa (quando separou-se alguns anos mais tarde abriu mão do título), decidiu imediatamente trabalhar para não deixar o sonho de ser independente de lado. Perguntada sobre quem seria sua musa inspiradora, ela responde: “Minha musa é a mulher que eu queria ser e da qual ainda guardo um pedacinho: uma mulher no começo e no comando da própria vida”.
Entusiasta do Brasil, a estilista não poupa elogios ao “produto nacional feminino”: segundo a designer, a brasileira gosta do próprio corpo, de cores e da vida. “Minha roupa é perfeita para elas.”

Se depender das vendas da primeira semana – segundo Diane Von Furstenberg, cinco vezes maior do que esperado – a sintonia entre as peças da coleção “Her name is Rio” (feita em homenagem ao Brasil e a primeira a chegar às araras do país) e as consumidoras daqui terá sido um sucesso.

Com vestidos a preços médios de R$ 1500, a moda de Furstenberg compete diretamente com a dos criadores do time “A” nacional. Mas a disputa é amigável. “A moda brasileira é ótima, forte, gráfica”, afirma, citando Alexandre Herchcovitch como um de seus criadores brasileiros preferidos.

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