Divido com vocês uma matéria que saiu na revista " Vida Simples", vamos aprender a fazer escolhas conscientes, descobrir algumas maneiras de reaproveitar as roupas e nos cobrir de atitude.
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Estilistas, fashionistas e especialistas de todo o globo apontam a última tendência da moda: a ausência de tendências. É que não houve nenhuma época como esta, onde você tem tudo-ao-mesmo-tempo-agora no quesito estilo de roupas basta sair nas ruas para comprovar. Modelitos de outras épocas misturam-se a novos tecidos, cortes, modismos. Estabelecer um padrão virou demodê. Mesmo que a cada temporada algumas peças fiquem em evidência, o mercado do vestuário, em constante renovação, faz com que seja impossível seguir modelos como antigamente.
Mais do que nunca, a moda é uma forma de expressão individual. E a indústria fashion, que dita os costumes, começa a buscar refências naquilo que as pessoas comuns estão usando. Não é para menos que o blog de moda mais cool do momento é o do publicitário americano Scott Schuman. Ele trabalhou por 15 anos com moda e percebeu um descompasso entre o que vendia e o que as pessoas usavam na vida real. Passou a fotografar o que americanos, italianos e franceses vestem no dia-a-dia, deixando as fotos comentadas em seu blog. Vejo pessoas nas ruas com estilo próprio e acho mais inspiradores e interessantes que os modelos dos desfiles, diz ele, que mantém o blog The Sartorialist na rede.
Se dentro da gama do que é oferecido nas lojas você faz um recorte e escolhe aquilo que o representa, a moda ganha um sentido maior. O estilo é uma escolha pessoal. A moda passa. O estilo permanece, afi rma Glória Kalil em seu livro "Chic Um Guia Básico de Moda e Estilo". A consultora de moda diz que estilo é aquilo que respeita sua personalidade. É o seu modo de dizer ao mundo eu sou singular, mesmo quando a roupa é necessária para mostrar que você faz parte de um grupo. E diz mais: quem tem estilo adota uma atitude sustentável, porque faz escolhas de forma consciente e não se deixa virar escravo da moda.
Moda sustentável
É a coqueluche do momento. Exatamente porque existe um público mais exigente quanto à procedência dos produtos, muitos fabricantes de roupas buscam se diferenciar usando materiais ecológicos e maneiras mais sustentáveis de produzir. Essa busca vem tímida desde a década de 70 e se intensificou nos últimos três anos, diz a jornalista inglesa Sally Lohan, do WGSN, prestigiado site de moda internacional. E arremata: Essa tomada de consciência deixou de ser coisa de hippie, e as roupas não têm mais um caráter artesanal, incorporaram design e tecnologia. Sally esteve em junho no São Paulo Fashion Week, que pela segunda vez adotou a sustentabilidade como tema. O evento foi decorado com papelão reciclado e reduziu em 70% o consumo de energia, entre outras ações. Nas passarelas, contudo, pouco se viu sobre o tema. A indústria têxtil brasileira está começando a adaptar suas fábricas a esse novo conceito, diz Sylvio Napoli, gerente de capacitação tecnológica da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil).
Se por aqui esse mercado engatinha, lá fora anda a passos firmes. A semana de moda de Londres, que acontece em setembro, terá o Esthetica, um espaço só para marcas ecológicas. E, em outubro, Paris é o palco da quarta edição de uma semana de moda exclusiva para marcas adeptas do comércio ético (todas as etapas de confecção priorizam a redução do impacto ambiental, promovem a atividade de artesãos e pequenas comunidades e valorizam os funcionários).
Na Europa e nos Estados Unidos tem de tudo: marcas de sapatos, bolsas e lojas inteiras especializadas em peças ecologicamente corretas como a recém-inaugurada Organic Avenue, em Nova York. A estilista inglesa (e vegetariana) Stella McCartney, famosa defensora dos animais, não usa couro nem pele de bichos e suas coleções são um sucesso. O cantor Bono, do U2, criou a Edun, marca de roupas com tecidos orgânicos produzidos por comunidades na África. Grifes como Armani e Levis lançaram linhas especiais de roupas com algodão orgânico. Até a megarrede varejista Wal-Mart entrou nesse filão.
Hoje é fashion usar roupas e acessórios que contribuem para a preservação do planeta, diz a socióloga americana Diane Crane, autora do livro "A Moda e seu Papel Social". Por essas e outras é que o lançamento de uma singela bolsa de algodão em junho causou o maior frisson em Londres. Estampada com os dizeres Im not a plastic bag (eu não sou uma sacola de plástico), a idéia era que a bolsa da designer Anya Hindmarch substituísse os bilhões de sacolas plásticas descartadas todo ano no país virou objeto de desejo e foi vendida em poucas horas nos supermercados de lá.
Quer saber o que existe no mercado brasileiro? Pule para o texto ao lado.
Matéria-prima verde
As roupas ecológicas são aquelas feitas de materiais reciclados, tecidos orgânicos, couros alternativos e novas fibras naturais, diz Selma Fernandes, coordenadora do Instituto E, organização brasileira que faz a ponte entre os produtores de materiais ecológicos e os estilistas e suas marcas. No Brasil, pequenas marcas são as pioneiras no uso desses materiais. Como a carioca Amazon Life, que vende bolsas e sapatos feitos de couro vegetal, criado com o látex extraído de seringueiras por cooperativas no Acre. Outro exemplo é a marca Goóc, que usa a borracha reciclada de pneus no solado dos seus calçados. A indústria têxtil brasileira desenvolveu fibras a partir de garrafas PET recicladas e fibras de plantas como o bambu e o cânhamo, que algumas marcas, como a Osklen, usam em suas coleções.
Você deve estar se perguntando: como descobrir se tal roupa segue os preceitos da moda sustentável? As empresas e marcas que buscam esse diferencial fazem questão de anunciar, criando selos e etiquetas que falam sobre a origem do produto, diz Cyntia Malagutti, professora de ecodesign do Senac-SP. Para as roupas orgânicas, já existe o selo de certificação NOW (Natural Organic World).
Você também pode checar na etiqueta a composição do tecido. As fibras naturais, de origem vegetal ou animal, são matérias-primas renováveis, costumam ser mais agradáveis ao toque e absorvem melhor a umidade do corpo. As fibras sintéticas são derivadas do petróleo (repare na etiqueta: elas têm as iniciais po poliamida, poliéster, polietileno, polipropileno).
Mas o hit dessa leva verde são as roupas feitas de algodão orgânico, cultivado sem o uso de agrotóxicos e pesticidas. Apenas 1% do algodão produzido no país é orgânico. A fábrica Coexis, de São Paulo, criou o primeiro tecido de algodão orgânico nacional, tingido com corantes naturais. Entre os clientes estão as marcas cariocas Redley e Cantão, que desfilaram na última semana de moda do Rio roupas com o selo orgânico.
Outro babado é o algodão que já nasce colorido, nos tons marrom, vermelho e verde uma saída aos estragos causados pelo tingimento químico. Desenvolvido pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) há seis anos através do melhoramento genético da planta, a nova espécie (que só cresce na Paraíba) é produzida por cooperativas que valorizam a agricultura familiar e o artesanato local.
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